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quarta-feira

Inspiração


Nunca gostou de desperdício. Ainda usava nankin e cada gota usada era aproveitada ao máximo. O papel canson aceitava suas linhas, em caligrafias antigas que quase não se via mais. Andava pelas ruas apreciando as frases nos muros, mas via alguns jatos de spray mal calculados e pensava em quantas linhas poderia escrever, com apenas aquele rastro fora de lugar. Lia bulas de remédio, instruções de aparelhos eletrônicos, composição e modo de usar, de materiais de limpeza  e calculava quantas palavras poderia economizar ao usar sinônimos e cortar partes que nem deveriam estar lá.

Andava fazendo anotações mentais o dia inteiro. Saía com ideias do chuveiro, criava um conto para a quase namorada no ônibus, elaborava crônicas humorística com as brincadeiras dos amigos da rua e poesias para as meninas do serviço, aliás, para todas outras mais. Aprendia novas habilidades, sem fugir da parte teórica, que lhe enchia a cabeça de mais ideias, mas também tirava um tempo ocioso para viajar nos livros, filmes e sonhar. Não deixava de frequentar a natureza em qualquer lugar que fosse, tanto a selvagem, como a domada, fora e dentro das pessoas.

Das coisas que viveu, junto dos seus amigos, só uma não compreendia. Aquele tal branco que alguns artistas temem tanto, mas também não era tonto, se um dia ele viesse, já tinha um Plano B. Não ia pedir que fosse embora, mas que sentasse ao seu lado, para ouvir a sua própria história e assim poder escrevê-lo.

Já tinha até um título, "Colorindo o que me deu!".


Joakim Antonio



Imagem: Inspiration in a bottle by The Unhype

quinta-feira

Cotidiano



Cotidianamente escrevia. Pensamentos entintados que borravam a face, quando mudos. Falas ritmadas que viravam canções, quando os passarinhos vinham. Versos quebrados que viravam poemas inteiros, quando o olhar sorria. Cotidianamente escrevia, deixando letras, no papel do coração.

Joakim Antonio


Imagem: Think by Igreeny.jpg

terça-feira

Esboço



Pele
Epiderme
Epitélio multiestratificado

Tinta
Pigmentos
Sólidos granulados

Pincel
Instrumento
Filamentos fixados

Desenho
Movimentos
Desejos pictografados


Joakim Antonio



Photo by Lali Perrault

quarta-feira

No sangue



Sua avó sempre dizia que a falecida mãe tinha alma de artista e que no lugar do seu sangue, havia tinta. Nesse instante ela ria e se esquecia da tristeza deixada, logo ela que nem sabia escrever ainda. Mas mesmo sem acreditar, naquele dia tudo mudou, pois ao cortar-se com a faca, no lugar do sangue, a tinta jorrou.


Joakim Antonio


Imagem: Ink by Hanspetter

terça-feira

Tradicional



Ao voltar a estudar, novamente escreveu. Não no notebook como sempre, mas no papel como nunca antes. Não gostava de cadernos e sim de folhas soltas, assim como as que suas irmãs árvores espalhavam por aí em combinação com o vento, pois cada folha possui sua própria vida e seu próprio caminho. E assim seguia escrevendo poesias mágicas e como toda magia, seguia um ritual, separava caneta e folha, tempo entre os  espaços ocupados, espaço dentro do tempo escasso e então escrevia. Nesse espaço-tempo só seu, descobriu os segredos velados apenas a quem nunca tentou, revelados a todos que ousaram concretizar sua escrita e só não resolveu uma questão, onde colocar tantas folhas até que juntas, tornem-se nova árvore então.

Joakim Antonio


Imagem: Traditional Art by Zalas

domingo

Melado





Poesia limpa é produto massificado
São letras em papel nunca usado
Tinta seca e morta 
pelo esquecimento
de como usá-la 

Poesia suja nunca é obscena ou chula
É soco certo no estômago
Regurgitar de pornografias
por serem sempre
verdades nuas 

Poesia é livre, líquida e viva
Foi ideia pedindo para ser 
Nasceu carente de leitura
envolve em abraços
escorre e lambuza 

Joakim Antonio


Imagem: Ars poetica 13 by Andrei Bucataru

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