Cada dia acordava faltando um pedaço. Mesmo sendo onde tudo já havia sido preenchido. Alguns iam chegando e outros, ele mesmo escrevia. Era como se passasse tudo a limpo enquanto dormia. No outro dia, sempre cabia o novo.
Era a casa mais simples da vila e ao mesmo tempo a mais mágica. Quando crianças, esperavam a vovó acordar, abrir a janela, que rangia alto e oferecer algum doce feito na madrugada. Um dia ela foi dormir e não apareceu mais, ficou morando no sonhar. Hoje em dia, os moradores sentam na praça em frente e ficam a lembrar do passado. E quando o vento bate, balançando a janela, eles nem disfarçam. Viram a cabeça com os olhos brilhando e torcendo, para que a vovó apareça e lhes adoce a vida de novo.
Coloque-o sobre a folha branca, como parte de um pequeno ritual, pegue uma caneta e olhe para ele durante um tempo. Sem retirar a rolha, veja a cor, imagine o sabor e sinta o ar mudar imediatamente, exalando leve perfume, vindo do frasco transparente.
Dentro desse frasco há a bebida usada pelos que enfrentam a folha branca diariamente, dos que compõem músicas, pintam quadros, fazem esculturas, dos que trazem para o mundo tudo de belo que já foi, é e ainda será concretizado.
Por se esforçar para que o tempo não levasse pedaços de si, não percebia o quanto lutava em vão. Assim como o tempo não para, toda beleza vivida não some.
Dias chuvosos trazem lembranças
banhos de chuva revigorantes
pingos no telhado embalando sono
céu escuro em pleno meio dia
corrida de gotas na vidraça
calor humano debaixo do cobertor
De repente a chuva passa
e as gotas não somem
você se vê preso
admirando uma única lembrança
sem saber
se as gotas estão no vidro
ou dentro de você
Enquanto estavam no colégio eles nem imaginavam, mas quando entrelaçaram os dedinhos e disseram, "Amigos para sempre.", estavam destinados a sempre se reencontrarem.
Homenagem aos amigos do Gastão Moutinho, obrigado por fazerem da minha infância e adolescência, um lugar feliz!
Não entendia como de um dia para outro, um mundo podia estar tão mudado, mas compreendia que deveria continuar andando. Respirou fundo e em vez de andar em frente, sentou-se mais um pouco para olhar a beleza do que ficou para trás.